quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ah, Clara, estou farta, farta!

Enganas-te: ficou também um certo cansaço, um certo mal-estar, que, apesar de tudo, nos separa. Estou farta de combater eternamente os seus demónios, aquele gosto do sofrimento que é para ele uma espécie de segunda natureza. Tu bem sabes que detesto complicações, que só tenho uma ambição na vida: ser feliz, viver simplesmente, sem histórias, sem dramas. Ele, pelo contrário, adora a tragédia, as discussões inúteis, as reconciliações momentâneas que não remedeiam nada. Ah, Clara, estou farta, farta! 

 Fernanda de Castro
A Pedra no Lago. Peça em Quatro Actos, 1943. 
Círculo de Leitores, Lisboa, 2006., p. 15

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